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2022 será o ano do Value Investing?

Por Marcin Jendrzejczak com Katarzyna Plewa, do Investing.com Polônia

Investing.com – Início de ano é uma oportunidade para realizar uma reflexão mais detida e se fazer resoluções. Isto também se aplica às decisões de investimento. Neste contexto, vale a pena reavaliar a filosofia do value investing (investimento no valor) e ponderar se ela vai recapturar seu brilho de outros tempos em 2022, após ter ficado de lado nos últimos anos.

value investing é uma estratégia de investimento clássica, bem como seu antípoda, o investimento no crescimento. Ela consiste em comprar companhias que estão sendo negociadas a um preço abaixo do seu valor real. O exemplo clássico é comprar a um preço abaixo do valor contábil. Neste exemplo, trata-se de comprar dólares por centavos: a ação representa uma parte da propriedade de uma determinada empresa – suas fábricas, patentes e outros ativos que, neste caso, são adquiridos a um preço inferior ao seu valor real, tal como indicado no balanço.

A psicologia do value investing

value investing é a estratégia de investimento de Warren Buffett e de seu mentor, Benjamin Graham. O value investing requer uma visão de longo prazo.

Nesse ponto, o termo que os economistas usam é baixa preferência temporal. A ideia é que cada pessoa prefere bens no presente aos bens no futuro. Esta preferência pode ser mais forte ou mais fraca. No último caso, uma pessoa é capaz de sacrificar parte de sua renda atual em prol de uma renda futura, sob a condição de uma possibilidade do lucro.

Um investidor em valor não pode ter medo de agir contra a multidão, pois segue o princípio de “comprar quando há sangue nas ruas”. Sir John Templeton chamou isto de princípio do pessimismo máximo. Ele incentivava a compra de ações apenas quando o mercado tinha chegado à convicção plena da total desesperança envolvida.

As ações de valor nem sempre vão direto para cima. Como Benjamin Graham disse, o mercado é uma máquina de votação a curto prazo, mas uma máquina de pesagem a longo prazo. Desse modo, a curto prazo, as ações podem cair ainda mais. Entretanto, no fim das contas, os preços das ações e os valuations devem estar alinhados.

A vantagem a longo prazo do value investing

As empresas de valor tendem a ganhar no longo prazo e também no ultra longo prazo. Desde 1926, de acordo com o Bank of America (NYSE:BAC) (SA:BOAC34), o value investing proporcionou um retorno de 1.344.600%. Ao longo do mesmo período, os investimentos em crescimento geraram rendimentos de “apenas” 626.600%.

Como observado por Craig L. Israelsen em um artigo que resume a pesquisa, publicado no website da Financial Planning, ao longo de um período de 25 anos (1990-2014) o crescimento anual acumulado do índice S&P 500 foi de 9,62%, com um desvio padrão de 18,25%. Isso significa que um investimento de US$ 10.000 aumentou para US$ 99.350 após 25 anos (o retorno real foi mais baixo devido à inflação). No caso de grandes empresas norte-americanas, o investimento em valor rendeu um prêmio de 86 pontos base. Para as empresas de médio porte, o prêmio foi de 99 pontos base. Já entre as pequenas empresas, a alta chegou a 224 pontos base.

Além disso, o autor examinou a situação em 21 períodos de 5 anos dentro do tempo examinado. Entre as grandes empresas, as de valor “ganharam” em 52% dos casos. Entre as pequenas empresas, o investimento em valor acabou vencendo 76% dos períodos de 5 anos (embora no período de 1995-1999, quando as empresas de crescimento venceram, a sua vantagem tenha alcançado 860 pontos base).

Daí emergem dois princípios da pesquisa. Primeiro – quanto mais longos forem os períodos, maior será a chance de vantagem do investimento em valor. Em segundo lugar, quanto menor for o porte das empresas que levamos em consideração, maior será a vantagem.

A última década – uma exceção, ou a nova regra?

No entanto, isto se tornou menos óbvio. Recentemente, o investimento em crescimento superou o value investing. Na última década, por exemplo, o ETF iShares Russell 1000 Growth (NYSE:IWF) (SA:BIWF39) teve um retorno de 17% ao ano, enquanto o ETF iShares Russell 1000 Value (NYSE:IWD) (SA:BIWF39) apresentou retornou de apenas 10%. Alguns analistas consideram que esta é uma mudança fundamental nos mercados, causada pelas empresas de tecnologia. Outros recordam que o mesmo argumento foi utilizado pouco antes da bolha das dotcoms estourar em 2000.

Então, o mundo mudou? Assim como os defensores da chamada nova economia destacam, hoje já não é capital físico que importa, mas sim o capital humano. Consequentemente, as relações tradicionais, como preço/lucro ou preço/valor contábil, estão se tornando obsoletas. Uma empresa de Tecnologia da Informação (TI) pode não ter muito capital à sua disposição, mas ainda assim pode ser um grande negócio. Isto se deve ao fato de que seu capital está nas mentes das pessoas. “Asset-light” é um fator positivo para as empresas modernas, e não um inconveniente.

Então, vamos olhar mais de perto. Nosso “backtest” no portal do Portfolio Visualizer cobrindo o período entre 2011-2021 mostrou que um investimento de US$ 10.000 em um ETF representando grandes empresas de crescimento dos EUA (que sejam parte do índice S&P 500) renderam US$ 58.056 ao final de 2021. Em contraste, um investimento no ETF iShares S&P 500 Value (NYSE:IVE) (SA:BIVE39), representando grandes empresas de valor dos EUA, rendeu US$ 31.764 ao final do período.

No entanto, na primeira metade da década, os resultados foram uniformes. Assim, a diferença é registrada em sua maior parte da metade da última década, especialmente o período a partir de abril de 2020. Afinal de contas, ainda no dia 30 de março de 2020, a vantagem do crescimento ficou pouco abaixo dos US$ 8.882, alargando-se para US$ 26.292 até o final de 2021.

A comparação na categoria de small caps é parecida – o ETF iShares S&P Small-Cap 600 Value (NYSE:IJS) versus o ETF iShares S&P Small-Cap 600 Growth (NASDAQ:IJT). Os resultados anuais cumulativos são de 11,56% e 13,64%, respectivamente, e o investimento de US$ 10.000 dólares rendeu US$ 7.383 a mais ao final do período para os investimentos em crescimento das small caps. Novamente, os dois portfólios estavam muito alinhados até 2017. A divergência só começou depois disso.

Em contraste, o ETF iShares S&P Mid-Cap 400 Growth (NYSE:IJK) teve um retorno anual acumulado de 12,49%, e os US$ 10.000 investidos trouxeram US$ 36.142, enquanto o ETF iShares S&P Mid-Cap 400 Value (NYSE:IJJ) registraram um retorno anual acumulado de 11,27% e os mesmos US$ 10.000 investidos geraram US$ 32.076 ao final do período. Neste caso, os gráficos foram extremamente semelhantes até o final de março de 2020.

A prevalência de empresas de crescimento nos últimos anos parece não ser tanto uma mudança de tendência, mas sim uma anomalia. Ela foi alimentada com uma política monetária fora do normal, como os programas de compra de ativos e as taxas de juros reais negativas (e as taxas nominais extremamente baixas). A correlação com as decisões do Federal Reserve (Fed) na primavera do Hemisfério Norte de 2020 é impressionante nesse ponto. É difícil falar sobre coincidência – na verdade, uma relação de causa e efeito se torna óbvia. Portanto, não é uma mudança de paradigma na economia, mas uma mudança na política do Fed a principal responsável pelas gigantescas valuations das empresas de crescimento nos últimos anos, e especialmente após 2020.

Assim, o recuo do Fed de uma política radicalmente dovish ameaça uma profunda correção nas empresas de crescimento. Quanto maior for o nível de sobreavaliação, maior será a correção. Lembremo-nos que, hoje, o Fed prevê o fim do programa de compra de ativos para o final do primeiro trimestre de 2022, seguido de aumentos nas taxas de juros espalhados ao longo de 2022 e 2023. Na ata da última reunião divulgada quarta-feira (5), os membros do banco central dos EUA discutiram quando inicia a redução de balanço, ou seja, de retirar dinheiro da economia.

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É claro que é possível imaginar uma situação em que, em caso de reação do mercado negativa demais, o banco central retornará à sua antiga política. No entanto, a inflação com recordes de alta será uma barreira difícil de superar nos últimos anos.

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Assim, o forte crescimento recente das empresas constitui, na verdade, um argumento a mais para o fato de os próximos anos favorecerem mais uma vez as empresas de valor. Da mesma forma, a sobrevalorização do mercado dos EUA pode acarretar um fluxo de capitais para mercados emergentes menos populares. Os investidores de valor encontrarão empresas interessantes não apenas no caro mercado americano, mas também em mercados na América Latina, Rússia, República Tcheca ou Polônia.

A disparidade do crescimento: Não é só na América

Vale lembrar, no entanto, que avaliações irrealisticamente altas de empresas de crescimento não são um problema exclusivo dos EUA. Como destaca Anthony Luzio, da Trustnet Magazine, a relação preço/lucro para o índice MSCI Growth de ações de crescimento globais é atualmente de 37,7, que é 2,5 vezes maior que o seu homólogo de valor. Embora, na essência, as ações de crescimento são mais caras por definição, a diferença normalmente tem sido de 1,4 vezes. Agora é de 2,5 vezes. Assim, mesmo se partirmos de uma perspectiva global, vemos que as ações de crescimento estão mais sobrevalorizadas que o habitual.

É claro que esta é apenas uma hipótese. A única coisa que sabemos com certeza sobre o futuro é a sua incerteza. Além disso, a curto prazo, as empresas de crescimento, muitas vezes relacionadas à tecnologia, podem produzir resultados verdadeiramente notáveis. A maioria dos especialistas sugere também diversificar seu portfolio. Em um portfólio diversificado há espaço para diferentes tipos de empresas, embora nada impeça que um tipo predomine.

Finalmente, vale a pena lembrar que mesmo que adotemos uma filosofia de investimento de valor fundamentada por dados históricos, bem como pelo bom comum e os grandes nomes, não devemos ficar limitados a ela. O valuation baixo é um indicador importante, mas não o único, que determina o futuro sucesso de uma empresa. Não menos importantes são o tamanho (via de regra, as empresas menores dão maior lucro, porém com maior volatilidade); a qualidade (boas finanças da empresa) e o fator do momento (o que cresceu no ano anterior muitas vezes cresce mais no ano seguinte). Alguém poderia orientar que um portfólio também deve incluir companhias de crescimento, mas que sejam selecionadas com muito cuidado ou que recebam investimentos como parte de ETFs. Desse modo, não ficaríamos dependentes de uma única empresa, que pode muitas vezes passar de queridinha do mercado atual para a falência de amanhã. Entre as empresas de crescimento de hoje estão as Amazons de amanhã, mas também muitas empresas que não irão prosperar ou talvez até não sobreviverão.

De certa forma, o ideal parece ser uma empresa pequena e de alta qualidade – com bons fundamentos financeiros, barata, mas cujo preço das ações já tenha começado a retroceder. Como podemos ver, há várias indicações de que o ano de 2022 será acompanhado de um retorno ao investimento em valor, e o Ano Novo é uma boa oportunidade para se criar um plano de investimentos baseado em avaliações profissionais e opiniões de analistas. Como sempre, a chave do sucesso continua sendo a paciência, aderir ao bom senso, evitar a ganância e investir somente os recursos que você pode perder.